domingo, 24 de julho de 2011

Escalando o Huayna Potosi

Depois de um problema de infeçao gastrintestinal, que me deixou fora de combate por 3 dias, resolvemos dar continuidade a nossa expediçao e tentar escalar o Huayna Potosi (6088 m). Esta montanha tem a fama de ser o cume de mais de 6.000 m mais facil do mundo, nao pela facilidade da escalada (como veremos mais adiante), mas pelo fato de ser possível sair de La Paz num dia de manha e voltar no outro dia a noite.

Como o nosso amigo Vitor Lécio também queria subir o Huayna, formamos um pequeno grupo e contratamos novamente os serviços da Elma Tours para o transporte La Paz - Zongo - La Paz e um porteador (carregador) para levar nosso "excesso de bagagem".
Saimos de La Paz na sexta-feira as 9h30 numa pequena van. O percurso até a barragem de Zongo, a partir da cidade de El Alto é todo por estrada de terra. Chegamos lá por volta das 11 hs. Zongo (4700 m) nao chega a ser um vilarejo, tendo apenas umas 3 casas do pessoal que cuida da barragem que alimenta uma usina hidroelétrica mais abaixo. Porém, conta atualmente com dois refúgios que servem de campo base para a escalada do Huayna Potosi.

Chegando em Zongo nós pegamos as nossas mochilas e, junto com Juan (o porteador), entramos na trilha que leva ao campo alto, chamado de Campo Roca (5130 m). Para aliviar o peso "extra", resolvemos já sair de La Paz calçando as botas duplas, o que nao facilitou a nossa vida na trilha, que sobe passando pelo antigo glaciar e pela moraina (borda de um glaciar formado por terra e pedras), até chegar em um esporao rechoso onde está o refugio. Trilha que leva ao refúgio (no alto do cume a esquerda).

Por volta das 14h30 chegamos no refúgio Campo Roca com o tempo ligeiramente encoberto. Acertamos com o refugieiro os nossos lugares no mezanino, onde cabem cerca de 20 pessoas lado a lado. O refugio tem um outro espaço com beliches, onde cabem mais umas 20 pessoas, alèm do espaço principal que serve de "comedor" e onde dormem os guias e carregadores. Os banheiros sao fora do refúgio, assim como a cozinha. Carla chegando no refúgio Campo Roca (5.130 m)

Depois de arrumar os nossos lugares, fomos buscar neve limpa para derreter no nosso fogareiro e fazer água, pois no refugio nao tem água corrente. Comemos uns pratos liofilizados e fomos para o mezanino descansar um pouco, enquanto os outros desciam para jantar. A Carla teve bolhas nos pés (provavelmente por ter feito a trilha com botas duplas) e nao estava animada para fazer a escalada. Eu e o Vitor arrumamos as nossas coisas para o dia seguinte.

A 1 hora da madrugada aparece um cara gritando "hora de acordar". Deixamos a muvuca diminuir para tomar café, arrumar as nossas coisas e nos equipar para a escalada. Dentro do refúgio até que nao fazia tanto frio, mas quando saimos por volta das 3 hs dava para sentir o frio cortante (provavelmente -15 oC). Fomos subindo o glaciar, contornando inúmeras gretas até que por volta das 5 hs tivemos que parar para eu aquecer um pouco as minhas maos que estavam "duras" de frio. Logo depois chegamos a lugar conhecedido como "pala chica", un trecho de uns 50 m com uma inclinaçao de cerca de 60 graus, que passamos em simultaneo sem grandes dificuldades. Um pouco mais acima o dia começou a amanhecer e paramos novamente para apreciar o visual, fazer um lanche e aquecer o corpo. Cume do Huayna visto da metade da escalada
Felipe Moura Vitor Lecio

A escalada segue pelo glaciar, contornando o cume pela direita. Por volta das 9 hs chegamos na base do cume, num lugar conhecido como "pala alta". Infelizemente essa rampa final, que tem uma inclinaçao media de 70 graus, já nao tem gelo suficiente para permitir a escalada (como tinha em 2001 na primeira vez que estive lá) e tem vários trechos com rocha aparecendo. Continuamos contornando o cume para pegar a crista que conduz ao cume atavés de uma aresta de neve. Fomos percorrendo essa aresta, onde em alguns lugares nao dava para colocar os dois pés lado a lado. Como já passava das 10 hs a neve estava começando a amolecer, o que deixava aquela passagem ainda mais perigosa. Quando estavamos a menos de 100 m do cume (a cerca de 6050 m), achamos melhor nao arriscar e fazemos meia volta. É claro que a sensaçao de chegar no ponto mais alto é muito boa, mas a segurança deve vir em primeiro lugar. E ainda faltava uma longa descida.
Crista que dá acesso ao cume. Cume do Huayna Potosi (a esquerda no final da crista). Visual do cume.

Fomos descendo lentamente, pois já estavamos bastante cansados. Pouco a pouco fomos perdendo altitude, passando pela pala chica, contornando as enormes gretas, até que chegamos no refugio por voltas das 13h30, onde a Carla estava nos esperando. Arrumamos as nossas coisas e, junto com o Juan (carregador), pegamos a trilha de volta para o campo base. No final da trilha eu estava quase me arrastando, pois as pernas já nao queriam mais atender aos meus pedidos para andar rapido. Felizmente a van já estava lá nos esperando para nos trazer de volta a La Paz.

Depois de um merecido banho, fomos numa pizzaria comemorar a nossa "vitória". Eu e o Vitor comemoramos a nossa escalada como se tivessemos chegado no cume, afinal desistimos a poucos metros por uma questao de segurança. Até a Carla estava contente, por ter passado a sua primeira noite a mais de 5000 m.

Namaste,

Felipe Moura

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